OPINIÃO: Brexit inicia a desglobalização.


Por,
Augusto Deveza Ramos
Sociólogo


Quando, em 1999, Nigel Farage anunciou no parlamento europeu que lideraria uma campanha para remover a Inglaterra da União Europeia obteve da audiência uma uníssona e massiva gargalhada. Farage denunciava a corrupção, a injustiça e os esquemas obscuros que a UE através das suas comissões e do seu parlamento, pagos a ouro, propagavam. Em 23 de Outubro, será a data final para o cumprimento da promessa de Farage: o Brexit.


1. Nigel Farage

Nigel Farage foi corretor de bolsa e consultor na 'city' de Londres para negócios de alumínio e cobre. O seu envolvimento com a política começou quando a Inglaterra, foi forçada a envolver-se  com políticas de centralização da União Europeia (UE), o Acto Unico de 1987, que obrigavam mais "cooperação" europeia. Nigel Farage intuiu a decadência da Inglaterra e previu que se a UE tinha um projecto para uma política financeira única, e mais tarde uma moeda única (o Euro), a UE iria requer maior consolidação e reforço politico – e até um exercito europeu, para o subreptício objectivo dos Estados Unidos da Europa.

Em 1993, Nigel Farage funda o UKIP (United Kingdom Independent Party). O UKIP, não se pretendia conotado à direita ou esquerda, mas 'independente'. Neste projecto, o UKIP atrai simpatizantes de todo o espectro social, desde a esquerda trabalhista-operária até à extrema-direita, mas muitos abstencionistas (a população 'voadora' inglesa, ignorante e confusa acerca da UE). O UKIP  revelava-se uma pedrada no charco do 'establishment' inglês. Não sendo 'ideologizado', causava confusão aos Trabalhistas e aos Tories (conservadores). Mas mais grave: causava muita preocupação aos media que, agora desorientados com o "new kid in town", começaram a rotular o UKIP como um movimento "nacionalista" e até de "estrema-direita". Perniciosamente, o UKIP tornou-se ainda mais popular, mas de facto, acabou por atrair zonas de extrema-direita onde Farage não se reconhecia. Demitindo-se do UKIP, fundou o Brexit Party em Janeiro de 2019, expurgando-se de indesejados "extremistas". Em apenas dois meses depois da sua fundação, as sondagens davam ao Brexit Party a liderança na intenção de voto dos ingleses, facto consolidado com a vitoria do Brexit Party nas eleições europeias de Maio, com 30,5% dos votos, tornando-se no maior partido nacional do Parlamento Europeu.


2. A causa inglesa no BREXIT.

O UKIP denunciava a corrupção da UE e a perda de independência e liberdade a que os ingleses estavam sujeitos se continuassem na UE. Este discurso, não apenas captou a atenção dos ingleses como se popularizou na Europa. A UE deixava de ser sacrossanta, mas não nos jornais e televisões, que teimaram fazer a vida negra aos secessionistas ingleses. Mas era tarde, o UKIP (e até os conservadores) já contavam com fundamental apoio da opinião publica. Sem muito esforço, porque os ingleses diziam a verdade: denunciavam a corte de burocratas não-eleitos, corruptos, despesistas e elitistas da União Europeia. Denuncias a que grande parte dos europeus, mas principalmente a classe-media e os ingleses esquecidos e despriveligiados, davam cada vez mais atenção.

A UE era, ao tempo de Durão Barroso, uma galopante organização corrupta. Nigel Farage denunciou-a, a viva voz, em sessão do parlamento europeu onde denunciou directamente Van Rumpoy (vice-presidente da UE, à época) de tão corrupto que "ninguém lhe compraria um carro em segundo mão"; na mesma sessão, Farage descreve Barroso - e na sua presença - como um burocrata "sem legitimidade democrática para ser presidente do que quer que seja". O actual líder do Brexit Party, estava a demonstrar uma verdade estrutural que ninguém, em décadas de UE, tinha ousado difundir.


3. A Inglaterra condicionada.

Custa a crer que um dos países que saiu vitorioso da II Guerra Mundial, a Inglaterra, tenha vivido em crises constantes, racionamento de produtos, filas para alimentos, até aos anos 70. Mas é verdade. Tal como é verdade que o pais derrotado na mesma facínora guerra, a Alemanha, tenha construído, 10 anos depois da capitulação, um "milagre" económico com Ludwig Erhard, ministro da Economia de Adenauer, reconstruindo a Alemanha das cinzas derrotadas à terceira economia do mundo (no fim do mandato de Erhard). Isto porque que à Alemanha foi permitido estabelecer políticas de baixa regulamentação que libertaram recursos naturais e baixaram o controle da produção, enquanto a Inglaterra (sob vigilância do plano Marshall) tinha uma economia hiperinflaccionada, porque hiper-regulamentada (as normas eram tão ridículas que estipulavam a distância, em rigorosos centímetros, que um casal deveria ter no seu namoro).
Por acaso? Não. Os globalistas sabiam o que faziam.


4. Tentações armadilhadas

A origem da União Europeia remonta a 1950 com a «Declaração Schuman», (inspirada por Jean Monet, França), quando havia a intenção de criar uma "Europa organizada em relações pacíficas entre todos os estados Europeus", reféns dos destroços da sua segunda Guerra cruel.  Essencialmente, a actual União Europeia é uma criação do governo francês que difundiu  a ideia da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (onde Jean Monet foi o seu presidente, não eleito, entre 1952 e 1955). Mais tarde a CECA tornou-se na CEE, Comunidade Económica Europeia. Jean Monet, seu mentor, foi banqueiro, nunca eleito para cargos públicos, que agiu pragmaticamente nos bastidores de governos europeus e americanos, como internacionalista influente.

Assim que a CEE foi estabelecida, levantaram-se barreiras físicas, comerciais e financeiras entre os países construtores desta ideia (França, Alemanha, Itália, Bélgica, Holanda, Luxemburgo) - o objectivo era criar um recreio de comercio livre, entre os paises membros, protegido do mundo exterior. Tudo isto parecia ser muito atraente para a Inglaterra, que nos 70 ainda vivia ainda em escassez e inflacção de dois dígitos. Mas a Inglaterra não vivia em decadência por acaso, nem a Alemanha vivia em milagre por 'superioridade ariana'. Havia razões para isso: Jean Monet, o arquitecto-banqueiro da CEE, viveu na Inglaterra do pós-guerra e ajudou a criar as opressões legislativas que destruíram a economia inglesa e a manteve em decadência até à sua inclusão na CEE em 1973, durante o mandato do conservador Edward Heath. Era uma armadilha à Inglaterra.


5. A Corte de Bruxelas

A UE foi concebida para que ninguém perceba como funciona. Nos 90 edifícios em Bruxelas, Estrasburgo e Luxemburgo, há 10.000 funcionários na UE que ganham mais do que qualquer primeiro-ministro europeu. Um em cada cinco. No parlamento europeu, os deputados (com salários perto dos 50.000 EUR /mês) não podem propor legislação, ou sequer questionar a legislação. Só as comissões o podem fazer, mas ninguém sabe como são criadas ou organizadas essas comissões. O parlamento ousa a reunir-se uma vez por mês e, segundo Marinho Pinto, o PE reuniu-se, no fim do ultimo mandato, 6 vezes em 6 meses, para falar de paises exteriores à Europa.

As elites da UE são ainda impunes perante a lei local; isentos de impostos ou limitados aos 16%. E, segundo a investigação de um jornal alemão, citado por James Rotwell, Editor do Telegraph, os altos funcionários da UE tem duas pensões: uma conhecida e declarada que ronda os 50.000 EUR mês e outra, muito mais divertida e oculta, que ronda os 100.000 EUR/mês. Mas isso não é suficiente para a aristocracia burocrata não-eleita: a corte dispõe de 'shopping center' exclusivo (vedado ao contribuinte europeu), onde podem comprar roupas, produtos de luxo e obter serviços cosméticos. Têm ainda subsídio de deslocação, alocação, família, entretenimento (eia!), seguro de saúde privado, educação privada dos filhos, um seguro de saúde de fármacos (inclui Viagra gratuito), entre as despesas de exercício da função totalmente subsidiadas.

A UE depende de 7 instituições, mas ninguém sabe a diferença entre o "Conselho Europeu", "Conselho da Europa" e o "Conselho da União Europeia".
Para adensar, a UE tem uma «Sala do Lobie», onde os lobistas profissionais, muitos deles ex-funcionários da UE, se reúnem com burocratas para pressionarem legislação a favor de grandes empresas. Assim se destroem as pequenas e medias empresas europeias. As grandes empresas adoram a UE, onde a a principal informação nas secretarias dos burocratas são convites para reuniões, recepções, 'soirées' e 'champagne' com os lobies internacionais (entre outras prendas). Só a «Open Society» de Georges Soros (ex-colaborador nazi, especulador financeiro e filantropo para guerrilha de esquerda) doou 18 biliões de dólares, em 2017, a organizações supranacionais, incluindo à União Europeia, com quem teve 42 reuniões durante o ano de 2017. E isto não é segredo: a «Open Society» publicou um livro com nomes de todos os deputados do parlamento europeu, amigos do lobie Soros - num total de 226. A decadência da UE e da Europa, resume-se a esta excessiva proximidade da UE aos lobies das mega-empresas, em detrimento dos coletes amarelos, desculpem, do povo.
Durão Barroso, por exemplo, saiu de "presidente" da UE para se tornar, coerentemente, no presidente de uma das maiores empresas bancarias do mundo, a Goldman Sachs - não nos espantemos: o trotskysmo, maoísmo, PSD, UE, banca globalista, são exactamente a mesma coisa, só varia o grau de implicação na globalização.
A UE financia ainda organizações, empresas e instituições que possam contribuir para a gigantesca teia de propaganda que impeça o cidadão comum de fazer perguntas.  Tudo isto é deliberado: enquanto a confusão e a massiva burocracia existirem, e ninguém souber como funciona a UE, é transferido massivo poder para Bruxelas, para que o povo nunca mais ouse controlar um governo no futuro.


6. Suíça fora da UE.

Não é por acaso que a Suíça não quer pertencer à UE. A Suíça exporta 5 vezes mais do que a UE, do que resulta uma taxa de desemprego de 4.5% contra os 11% da UE, mais do dobro. Isto acontece por uma razão: a Suíça tem acordos comerciais directos, bilaterais, com os seus paises parceiros, e não por condicionamento burocrático, os 'pacotes' uniformizados da UE que 'servem' tanto para a Espanha, Portugal ou Bulgária. Este pequeno país europeu, a Suíça, é o mais exportador do mundo. Ao contrário da UE, a economia da Suíça é a menos regulada do mundo e uma das mais inovadoras. O que faculta a riqueza privada e atrai as principais empresas e marcas mundiais para a Suíça; onde permanece a banca mundial mais significativa e onde os europeus e cidadãos do planeta mais confiam os seus depósitos 'sérios'. Além disso, o PIB helvético é o dobro do da UE e, por isso, os salários são também o dobro.. Sendo um facto que os helvéticos pagam muitos impostos, é simultânea verdade que na Suíça a taxa de retorno dos impostos para a população é a mais alta do mundo. Politicamente a Suíça tem sido organizada como um sistema democrático horizontal (do povo para o povo) e não pelo sistema vertical (da elite para o povo) em vigor na UE. Na Suíça, os helvéticos têm direito a armas para defesa pessoal ou de um eventual governo tirano (que inspirou semelhante na Constituição dos EUA); a cada ano, há um exercício militar nacional que envolve todos os cidadãos do território; e é o pais europeu que mais realizou, de longe, mais referendos populares. A Suíça tem uma das mais antigas constituições do mundo, uma das mais democráticas, onde o poder pertence ao povo, não à burocracia, ou elites. Não serão tudo rosas na Suíça, mas está longe de se tornar no pântano em que a UE se tornou.


7. Batalhas futuras

Os movimentos populistas ou nacionalistas apenas aglutinam vontades populares que os partidos do 'estabelecido' teimam em não reconhecer. Se o globalismo se apoiava na internacionalização, eliminação de fronteiras e moeda fiduciária (burocrática), o nacionalismo apoia-se na soberania, controle de recursos e fronteiras e moeda padronizada ao ouro. Não porque o nacionalismo seja melhor, mas apenas porque funciona para toda a gente; enquanto o globalismo se atreve apenas para as elites - mas em nome do povo.
As vitórias nacionalistas no referendo de 2016 em que a GB disse não à UE, a vitória de Trump de 2016 nos EUA (e a prevista em 2020), entre resultados na Itália, Polónia, Hungria, França, e a crescente abstenção europeia, fazem crer que a globalização acabou: a luz e a democracia estão de volta - vai ser muito mais difícil à comissão europeia controlar as intenções dos governos nacionais.

8. A liberdade da Inglaterra.

A Inglaterra tem um historial de Liberdade na Europa e em todo o ocidente, desde o estabelecimento da Magna Carta em 1225, que limita o poder dos reis e inspirou as revoluções francesas e americana. Os globalistas, burocratas e autocratas, sempre temeram o povo e as suas liberdades. Além disso, disso a Inglaterra foi, durante o sec. XIX  pioneira na industrialização e no comercio livre, que duas guerras mundiais (convenientemente) destruíram. O Reino Unido foi também, durante os sec. XIX e XX, o centro mundial dos negócios e Londres a capital financeira do mundo; disseminou cultura e democracia no planeta, e apesar de muitas linhas tortas, libertou muitas nações do seu atavismo.. São hoje a primeira língua planetária, e um dos principais mercados autónomos. A sua tradição industrial, académica, cultural e política, conferem à Inglaterra uma identidade única, que os burocratas do número e da engenharia política temem. Alem disso, a Inglaterra é, geo-estrategicamente, a fortaleza que uma ditadura dos Estados Unidos da Europa não quererá ver como inexpugnável.


CONCLUSÃO

A UE precisa da Inglaterra porque é o principal mercado europeu. È para onde se escoam parte significativa da industria automóvel alemã que gera 60 biliões de euros aos alemães. Se os ingleses estão confiantes na sua saída há razões para isso. Primeiro contam com o apoio de D. Trump, nos EUA, que avançou com apoio a Boris Johnson: as empresas europeias que negociarem com os EUA através dos portos ingleses ficam isentas de impostos aos EUA. Segundo, contam com a Comonwealth, uma agremiação de paises de língua inglesa, só por si melhor mercado que a Europa inteira. Terceiro, podem mover-se para a Organização Mundial do Comercio. Quarto, sabem que quem perde mais é a Europa e não a Inglaterra, o maior mercado europeu.
Os avanços e recuos a que foram sujeitas a negociações da UE com a europeísta Theresa May, não fez senão parte da estratégia de decepção e propaganda da UE em ocultar aos europeus a realidade: a Inglaterra não precisa da UE. As falsas, mas pertinentes questões como a Irlanda, imigração e espaço aéreo podem e vão ser negociadas bilateralmente.
A Inglaterra é lúcida, sabia e responsável. Souberam prometer isso a Portugal: prosperidade mutua por acordos bilaterais, não mais pela via da corte sono-lenta de Bruxelas.

deveza.ramos@gmail.com



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