OPINIÃO: A Sociedade sem dinheiro.

Por,
Augusto Deveza Ramos
Sociólogo

Os bancos internacionais fazem fortunas todos os dias, apenas com os custos de operações eletrónicas. O que são 'apenas frugais cêntimos' para o cidadão comum, são lucros enormes na contabilidade diária do sistema digital, que precisa de mais gente para obter mais lucros. E contam fatalmente com a ONU para essa façanha.

1. Dinheiro e direitos

O dinheiro não é mais do que confiança. Na Mesopotâmia, os seus habitantes confiavam no sal e em conchas para transacções. Isso foi há 8.000 anos. Depois inventou-se o ouro, prata e bronze, materiais mais duradouros para se cunharem moedas, num sistema que foi ganhando confiança ao longo da história. Até há pouco tempo. Hoje o dinheiro tem pouco de valor intrínseco, é um papel com valor referencial, em reservas de ouro de um banco nacional. Desde há pouco mais de uma década, o dinheiro tornou-se apenas num símbolo, um número numa central de computador que o traduz para um plástico chamado «cartão de credito» - até os cheques que substituíam o dinheiro são desincentivados. Hoje emite-se notas e moeda do puro vazio (sem necessidade de paridade de ouro em referência), isto tudo no sentido de 'controlar a inflacção' e 'solucionar a economia'. Mas é uma ilusão. Com consequências subtis na nossa vida quotidiana e como cidadãos.
Estas novas formas de dinheiro estão a criar nova identidade: por exemplo, ao usarmos o papel-moeda nas transacções, a nossa identidade e confiança refere-se à instituição «estado» que emite e garante essa moeda. Mas ao usarmos cartões de credito e o sistema electronico, a nossa identidade refere-se às empresas que o emitem e controlam. Por isso, estas empresas bancárias internacionais pretendem eliminar o dinheiro, em essência, ocupar o território do estado. Um dia, os cidadãos deixarão de se identificar pelo B.I. emitido pelo estado que será substituído por cartões de bancos internacionais: "Bom dia, ... o seu cartão de credito, por favor?!", inquirirá o sr. policia numa operação de fiscalização.
E não é uma fatalidade, nem um beneficio. É um plano dos mega-bancos e cartéis financeiros para concentrarem nas mãos de uns poucos, o controle de recursos e transacções financeiras do planeta, através de um processo gradual de erradicação do dinheiro físico.
Este dinheiro electrónico servirá para criar uma rede mundial tão densa que os cidadãos abdiquem de direitos, como a privacidade, para pertencerem a esse incontornável cerco. Uma rede que pode ser descrita como a «marca da besta», o anti-cristo, descrito nas Revelações da Bíblia, "só venderá e comprará quem tiver o numero da besta, e esse numero é o 666", - de facto, os tratados globais de estandardização de identidades financeira, começam a exigir esta 'tríade' de identificação eletrónica: uma assinatura, uma impressão do dedo e reconhecimento facial, num processo de controle da biométrica de cada individuo.
E nem sequer começou. Trata-se de um sistema, perigosamente neo-feudal, que difunde dívida e escravidão e se propõe cada vez mais centralizado, acima das instituições e nações, que em nome da "facilidade de transacções internacionais", escondem crescente e descontrolada taxação a que os cidadãos estarão sujeitos. São cartéis financeiros internacionais, que em nome da evasão fiscal e controle da criminalidade se propõe controlar as vidas do mais pacato dos cidadãos. Muitos governos tendem a adoptar este sistema e vão expor a vida financeira privada aos olhos mais ímpios.

2. Sistema artificial

A sociedade sem dinheiro existe na prática: por exemplo, 97% de todo o dinheiro em transação na economia dos EUA é digital; não há moedas e notas físicas que consigam corresponder ao volume de transacções norte-americano ou até europeu. Para funcionar, este modelo necessitará de controlar a identidade dos indivíduos mas para se auto-perpetuar, precisa de criar e gerir perfis de comportamento financeiro futuro. Um exemplo desta pioneira gestão, é a da popular Amazon, ao manipular tecnologia que permite fazer entregas de encomendas antes do cliente encomendar – tudo baseado num sistema informático gestor de perfis de consumo individual, com um grau de certeza de 99%. Este tipo de previsões é tudo o que o sistema sem dinheiro propõe à sociedade: uma mega prisão, onde está tudo planeado, previsto e até solucionado, para o 'nosso bem', e nas mãos de uma elite que o controla.
As escolhas privadas deixarão de ser exclusivas da pessoa e farão parte de um sistema electrónico babeliano que nenhum tirano sequer sonhou. Será assim que se criarão zonas-beta onde, por exemplo, se podem testar medicamentos ou vacinas; produtos e tecnologias, não para benefício dos consumidores mas desta "Enterprise", cada vez mais global e centralizada. Índia, China, Bangladesh e Serra Leoa, são algumas das zonas-beta, onde se ensaiam processos e produtos desta elite mundial. Falências, desempregados, migrantes, refugiados, serão também bem-vindos, porque haverá mais gente dependente, com uma trela sempre presa ao dono, deste sistema electrónico e aparentemente paternal.

3. Na Suécia.

A Suécia é a referencia mundial para o paradigma do dinheiro electrónico: a sociedade sem dinheiro. É frequente ver nas lojas suecas o letreiro «Não se aceita dinheiro». Os pagamentos em dinheiro são apenas 15% das vendas a retalho, usado principalmente pelos mais velhos, pouco habilitados às exigências electrónicas. Se a experiência está disseminada a 90% da população e é referência mundial para bancos e países que espreitam essa solução, a façanha não está a ter bons resultados. É o próprio governo que o admite. Por isso, distribuiu um folheto de aviso a toda a população sueca acerca dos perigos de uma crise ("Om krisen eller kriget kommer"; "Se vier uma crise ou invasão"), onde alerta para a possibilidade de falhanço do sistema electrónico financeiro, central, para o qual os suecos devem estar preparados, dispondo de moeda física suficiente para semanas de sobrevivência.
A moda da sociedade sem dinheiro foi tão rápida na Suécia que houve lojas que fecharam por aceitarem dinheiro físico. Até as pequenas transacções de retalho, em feiras por exemplo, são feitas pela via electrónica de uma aplicação de nome «Swich» (que nem sempre funciona) só acessível a quem tiver telemóvel. Os idosos são os que mais se queixam, por terem mais dificuldade em se adaptarem aos rituais do dinheiro electrónico: pensionistas tem dificuldade em levantar dinheiro dos bancos que usam agora camionetas-caravanas – espécie de bancos-móveis – para socorrer as populações que usam dinheiro. Se os suecos usam este sistema tambem começam a fazer sensatas perguntas: "e se houver um ataque hacker", "uma falha eléctrica" ou até "falência do sistema bancário"? São perguntas que estão em debate na opinião publica sueca onde o próprio banco central sueco intervém, desaconselhando o excessivo uso do dinheiro electronico e sugerindo maior uso do dinheiro do estado – alem disto, as autoridades europeias têm advertido a Suécia para os riscos que causa à rede de dinheiro da Europa.

4. Na China.

O sistema comunista chinês tem um grave problema financeiro. Cada vez mais irresolúvel. Os economistas chamam-lhe "a bolha": uma divida publica generalizada, sempre a aumentar e prestes a rebentar a qualquer momento (à semelhança de todo o sistema mundial). Com problemas na economia, infraestrutura industrial frágil, migrações internas descontroladas, problemas de recursos (como o abastecimento de água), contestação política interna e as recentes contestações em Hong Kong, a aristocracia comunista de Xi-Djiping pondera introduzir o sistema electrónico como solução.
Esta decisão pela eliminação do dinheiro irá eliminar as poucas margens de liberdade que os chineses eventualmente pudessem ter, e coloca-os cada vez mais dependentes do estado centralista. O sistema de 'pontuação social' em vigor na China (uma espécie de gigantesco Big Brother), já lhes controlava suficientemente a vida. Retirar-lhes o dinheiro físico, é o golpe de misericórdia, que vai retirar-lhes a privacidade e a individualidade que ainda pudessem ter. O estado comunista encarrega-se de gerir e conhecer os movimentos financeiros de cada chinês – principalmente dos contestatários e eventual oposição ao tutor central. A tecnologia electrónica prova ser, na China, o instrumento perfeito para ditaduras centralistas. Um dia esta experiência chinesa, que os globalistas adoram e aplaudem, será generalizada ao planeta.

5. Propaganda e realidade.

Eis o que diz a propaganda do sistema sem dinheiro: como o dinheiro não é físico a possibilidade de roubo é menor; além disso em caso de lavagem de dinheiro há sempre um rasto; elimina as necessidades de armazenamento e facilita as transacções em caso de viagens; elimina ainda os custos de impressão e emissão de moedas e notas.
Esta propaganda não revela que o sistema não apenas controlará a nossa identidade como expõe a nossa privacidade e identidade em caso de roubo e perda de cartões; são inúmeros os casos de pessoas que transmitem, por fraude ou confiança, os seus dados a terceiros; os idosos tem dificuldade neste ritual electrónico; em caso de ataque hacker o dinheiro desaparece, sem rasto; bancos ou governos, podem justificar problemas tecnológicos para fazer desaparecer dinheiro; gera exclusão àqueles que não tem contas bancarias e àqueles que tem dificuldade em operar com tecnologia; é tambem incitamento ao consumismo, gasta-se mais com cartão do que com dinheiro.
Para além que os multibancos e sistemas eletrotécnicos nem sempre funcionam. Os bancos podem cobrar taxas a qualquer momento por transacções inesperadas, fora de "limites", ou outras diversões como "carga fiscal do governo" ou "compensação de perdas". Instituições de caridade e igrejas, queixam-se de terem perdido as pequenas doações, porque muita gente trocou o dinheiro por cartão de plástico. Finalmente, é um paraíso para os governos e bancos centrais, porque torna a evasão fiscal mais difícil e facilita o aumento dos impostos a serem cobrados automaticamente.

6. Os bancos e a ONU

O objectivo da propaganda é gerar o máximo de crentes e aderentes neste sistema electronico. Tal como a emissão de cartões de crédito, foi uma subtil forma de incitar dívida aos clientes dos bancos, este sistema precisa do máximo de indivíduos para se fazer funcionar. E não interessa a nacionalidade ou funcionalidade. Interessa que criem uma conta bancária e usem a transacção electrónica. Não porque seja particularmente benéfica, mas porque, as pequenas taxas cobradas aos utilizadores geram por dia na sua contabilidade final, milhões em lucro aos bancos operadores.
Não foi por acaso que a Europa acolheu tantos migrantes e refugiados, hoje a receberem prestações do estado por esta via electrónica. Nem é por caso que a é na Suécia onde os migrantes são 'melhor' acolhidos, precisamente no país onde a transacção electrónica é mais disseminada. Também não é por acaso que a ONU, em parceria com a Aliance 2020, se propõe inserir 1,5 biliões de pessoas no sistema bancário internacional, a quem serão implantados microships, nem é por acaso que a mesma ONU criou um Pacto Global das Migrações, pelo qual pretende deslocar o máximo de migrantes para o ocidente onde vigora um sistema financeiro electronico, pronto para lhes dar as "boas-vindas". Estes projectos da ONU não têm nada de inclusão social senão no sistema de transacções electrónicas internacionais – cuja soma de operações geram milhões por dia aos bancos centrais. Basta fazer as contas, para verificar o quanto a ONU teima em fazer ganhar aos bancos.

7. Retaguardas: ouro e prata.

Nos recentes anos tem havido cada vez mais países a repatriarem o seu ouro. Isto não é por acaso. Este sistema fiduciário é muito frágil e pode acabar a qualquer momento. A China e a Rússia são neste momento os principais compradores de toneladas de ouro no mundo, aumentando a sua retaguarda no caso de um colapso financeiro. Mas tambem a India, EUA e Inglaterra estão na mesma corrida. Outros países, por precaução, repatriam o seu ouro que têm à confiança em bancos dos EUA, Suíça ou Inglaterra. Há 8 anos, Obama recusou repatriar o ouro que a Alemanha de Merkel reinvindicara - só o verá na totalidade em 2020. O mesmo aconteceu à Venezuela, que pediu a repatriação do seu ouro do Banco de Inglaterra e recebeu um «não» como forma de sanção às políticas de Maduro. Mas muitos paises tem conseguido o repatriamento do seu ouro. O caso mais recente foi o da Hungria e Finlândia que não confiam num sistema internacional frágil e preferem manter os seus valores dentro de fronteiras.
Mas não são apenas países que exercem esta sabedoria. Há muitas empresas que recorrem ao ouro como forma de consolidação dos seus activos. E na Suécia-do-dinheiro-electrónico, a procura de moedas de ouro e prata (euro e dolar) tem aumentado consideravelmente. De facto, é um investimento a considerar para quem se quer resguardar de uma eventual crise: o ouro ou prata nunca desvalorizam em crises e tendem a aumentar o seu valor; mesmo em pequenos investimentos.

8. Conclusão

A sociedade sem dinheiro tende eliminar o estado-nação e as soberanias. Favorece a centralização, burocracias e cartéis internacionais, retirando poder às culturas e atacando a privacidade dos indivíduos. A União Europeia (UE), se não é tão radical como a Suécia e a China na implementação deste sistema, mostra-se favorável ao seu uso, fomentando-o, como evidencia a remoção do circuito público das notas de valor alto, de 500 EUR - as notas de valor alto estão a desaparecer, em muitos países, em favor deste sistema oco-digital. Na nação portuguesa, parece haver sensatez no uso destas formas de transação; se os portugueses são convidados e atraídos para o dinheiro de plástico, há uma sapiência, criada pelo hábito de fatais poupanças, que inspira o uso de papel-moeda como melhor controle e rigor no controle de contas – sabedoria não extensível aos recentes governos despeso-socialistas.
O dinheiro electrónico pode ter o seu espaço, mas que nunca se suponha substituir o garante do dinheiro físico. Ambas os modelos podem concorrer publicamente, para evitar hegemonias e aberrações, como o caso de utilizadores do Twitter que se viram expulsos do Chase Bank, apenas por opiniões políticas, numa saga de um perigoso monstro que ameaça mostrar a suas barbas.
A aquisição de moedas de ouro, prata ou platina (dólar ou euro) é uma novidade crescente, na Europa e nos EUA. Os norte-americanos, que não têm a segurança social dos europeus, socorrem-se da aquisição de ouro e prata como mensais e pequenos investimentos, mas sólidos, sem as armadilhas do dinheiro de plástico.
O mesmo pode ser feito na Europa e em Portugal, numa economia estagnada, que tende a não melhorar, senão por artificio.

deveza.ramos@gmail.com

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