Por,
Augusto Deveza Ramos
Sociólogo
A ONU é hoje uma instituição exposta: suspeita de ineficiência diante da 'crise Covid', a ONU e a sua subsidiária OMS, brandem mais obsolescência do que utilidade.
1. Breve Curriculum
Depois das guerras trágicas na Europa na primeira metade do sec. XX, formou-se consenso generalizado para manter a paz no planeta. Criada em 1945, na ressaca da II Guerra Mundial, a Organização das Nações Unidas (ONU) foi sequência de uma experiência anterior semelhante, a Sociedade das Nações, formada em 1920, como circulo sanitário à expansão comunista da União Soviética mas sem apoio formal dos EUA.
Muito mais abrangente, a ONU, com sede localizada em Nova Iorque, Manhatthan, conseguiu reunir inicialmente 51 países com o objectivo de "manter a paz e a segurança entre os povos", "promover os direitos humanos" e, entre outras agendas, "providenciar ajuda humanitária" em casos de tragédia. Hoje reúne 193 paises e 3 observadores.
Com uma trajectória sinuosa de sucessos e fracassos, a ONU foi decisiva e fulcral para, por exemplo, reconhecer o estado de Israel em 1947. Em 1956 exerce a primeira operação de paz no Canal do Suez e tambem o seu primeiro fracasso, não conseguindo impedir a invasão da ex-União Soviética à Hungria.
Nos anos 60, com a emergência de novos paises em Africa (mas tambem Ásia e Oceania) a ONU regista a adesão de 17 novos paises (16 deles africanos) – mais tarde, este movimento fará toda a diferença, paises do 'terceiro mundo' unir-se-ão no bloco chamado 'Grupo dos 77', sob liderança da Argelia.
Em 1971 a Republica Popular da China (RPC) alcança a cadeira chinesa no Conselho de Segurança em substituição da Republica da China, representada por Taiwan (sob forte oposição dos EUA), sob apoio do Grupo dos 77.
Com o fim da Guerra Fria, a ONU adquire mais protagonismo: o orçamento para a paz aumentou dez vezes mais. Nas decadas de 80 e 90, operações em El Salvador, Namíbia, eleições pós-apartheid na África do Sul, Camboja e Kuweit, expõem a ONU como organização aparentemente consolidada. Mas ONU criava mais problemas do que soluções. Crises simultâneas na Somália, Haiti, Moçambique e Jugoslávia expuseram a ONU como instituição pouco eficaz: na Somália era a NATO quem trabalhava, na Bósnia foi caos e indecisão de uma organização que nem preveniu, sequer impediu, o genocídio tribal do Ruanda. A ONU mostrava as suas deficiências. E em meados dos anos 80, o presidente do EUA, Ronald Reagan, retirou financiamento à UNESCO - Inglaterra e Singapura fizeram o mesmo – forçando que, nos anos seguintes, a ONU reformasse a sua dimensão e objectivos.
2. A 'geringonça' internacional.
Foi o General Charles de Gaulle quem usou o termo 'machin' (geringonça), em 1947, para designar a ONU - de Gaulle preferia que os paises negociassem directamente as animosidades por tratados directos entre países. em vez de recorrerem a organizações supranacionais. Tinha razão. A ONU tornou-se num leviathan de disfuncionalidade, despesa e até injustiça. Dos 193 paises membros da ONU, os principais contribuidores são os EUA, Japão, Alemanha, França, Inglaterra, China, Italia, Canadá, Espanha e Brasil, em contribuições que totalizam 70%. Só os EUA doam mais do que outros 186 paises juntos, contribuindo em 22% no orçamento da ONU. No entanto, os EUA não só não recebem pelo que contribuem à solidariedade internacional, como por vezes são hostilizados.
Nos finais dos anos 90 e inicio do séc. XXI, a ONU era secundaria nas suas operações de paz. Foi a NATO quem, por exemplo, resolveu problemas na Serra Leoa e no Afeganistão. A seriedade da organização mundial era colocada em causa, depois de episódios como a invasão dos EUA ao Iraque não aprovada por resolução; a morte de 101 funcionários da ONU em 2015 durante um sismo no Haiti e a acusação de abuso sexual por parte de 'capacetes azuis' da ONU em missões no Congo, Haiti, Sudão, Burundi, Libéria e Costa do Marfim.
Endogenamente, a areia na engrenagem da ONU é a relutância de estados membros em debaterem, ou cumprir, resoluções do Conselho de Segurança - que poderiam ter evitado os genocídios no Bangladesh, Camboja ou Ruanda; o massacre de Sebrenica ou a guerra civil da Somália. E embora o relatorio do Human Security Report, de 2005, mostre o inegável papel da ONU na diminuição do número de genocídios e abusos de direitos humanos desde o fim da Guerra Fria, esta organização mundial serve apenas hoje paises do Terceiro Mundo, não o seu desenvolvimento, mas como a cortina perfeita onde se escondem tiranos, avulsas violações aos direitos humanos, corrupção e estagnação.
3. China
Segundo a Amnistia Internacional, a China é o primeiro país do mundo em execuções (pena de morte); é um dos regimes mais hostis à liberdade religiosa, principalmente às minorias muçulmanas, cristãs e budistas. Os seus próprios cidadãos vivem sob apertada vigilância, numa matriz tecnológica concentrada no partido comunista de Pequim. A China não pratica a liberdade de expressão, religiosa ou de reunião, direitos consagrados na carta do Direitos Humanos da ONU e continua a ocupar o Tibet sem se conhecer alguma resolução da Assembleia Geral ou da Comissão dos Direitos Humanos que a condene.
4. Arabia Saudita
Em finais de 2015, a ONU tinha batido no fundo: foi eleito para presidente do Conselho de Direitos Humanos, Faisal bin Hassan Trad, da Arábia Saudita, um pais quase medieval, onde as mulheres são secundarizadas e infantilizadas, não podem sair à rua sem parente próximo, e só podem exercer as tarefas banais. A mesma Arábia Saudita que bateu o recorde de execuções em 2019, quando foram decapitadas 184 pessoas, segundo a Amnistia Internacional. A nomeação do delegado saudita mostra como a ONU não só, não age diante de denuncias de ataques aos direitos humanos, como branqueia situações gritantes, elegendo paises reconhecidamente algozes (Egipto, Congo, Paquistão, Somália, Nigéria, China, Arábia Saudita) para membros da Comissão dos Direitos Humanos, desviando a atenção e adiando a resolução.
5. Israel
A divisão da Palestina foi efectuada em 1947, quando a ONU aprovou a resolução que criava o estado de Israel (dois anos depois negociava armistício ao conflito daí resultante), país que mais tem sofrido de discriminação, inclusive racial, dentro da ONU. A discriminação a Israel é tão gratuita e exacerbada que não pode ser ignorada: todos os anos a ONU aprova, fatalmente, 20 resoluções contra Israel, as outras cinco ou seis ficam para paises como a Síria, Coreia do Norte ou Irão. Nem uma para a China, Arábia Saudita, Venezuela, Rússia, Cuba, Nigéria, Congo ou Egipto, paises muito mais prevaricadores. Israel, ódio de estimação da ONU, só tem o apoio dos EUA, e nem os paises europeus se mostram muito favoráveis ao único pais democrático do Medio Oriente que, na verdade, respeita os direitos humanos.
A ruindade da ONU a Israel, um país com uma população de 9 milhões de pessoas, é declaradamente institucional. Em 1975, a ex-União Soviética e o Grupo dos 77, organizaram lobie para declarar o sionismo como racista, a resolução só foi revogada 6 anos depois, em 1981. A Comissão dos Direitos Humanos da ONU tem inclusive uma recorrente agenda particular para Israel, a chamada 'Agenda Item 7' para que quando a 'comissão' reúna, Israel seja fatalmente condenado; nesse automatismo, nunca são incluídos países como a China, Arábia Saudita, Egipto, Nigéria e outras grotescas impunidades. Essa discriminação racial a Israel é matriz na ONU. A grosseira UNESCO arroga-se no direito de trocar os nomes de locais sagrados judaicos para nomes muçulmanos: ao 'Muro das Lamentações', a UNESCO deu o nome de 'Praça Al-Buraq'; o Túmulo de Raquel em Belém e o Túmulo dos Patriarcas em Hebron são, segundo a UNESCO, "lugares palestinos", não judaicos.
A aberração nem sequer terminou. A OMS (Organização Mundial de Saúde) tem tambem a sua agenda fatal para Israel, a 'Agenda 14', que lhe permite condenar anual e automaticamente Israel como 'violador dos direitos dos palestinos à saúde' nos "territórios palestinos ocupados". E a Comissão para o Estatuto da Mulher, escolhe a democracia de Israel como, único e exclusivo país, contra a "promoção da igualdade de género e emancipação da mulher". Nenhum dos paises medievais muçulmanos, onde as mulheres têm direitos equivalentes ao trem de cozinha, são sancionados: Paquistão, Afeganistão, Irão, Arábia Saudita, Egipto, Somália. Não apenas não são condenados como são promovidos, como a Arábia Saudita, nomeada em 2015 para a Comissão do Estatuto das Mulheres para "promover os direitos das mulheres". Não é comédia, é mesmo a geringonça ONU.
6. A infiltração da China
Com a inscrição de novos paises do terceiro mundo, a ONU voltou-se mais para objectivos sócio-económicos do que para a manutenção de paz ou direitos humanos - em 1970, o orçamento para objectivos económicos era ostensivamente superior ao da paz. A China teve um papel decisivo nesta viragem. Há mais de uma década que a China infiltra a ONU colocando burocratas chineses em posições chave, criando uma estratégia de influencias e parcerias com os paises do terceiro mundo (principalmente africanos), a quem empresta dinheiro e perdoa dividas, em troca de votos nas eleições da ONU. Hoje, das 15 agências da ONU, 4 são de presidência chinesa (embora a China contribua em apenas 5% do orçamento).
Hoje a influencia da China na ONU é evidente: o Secretario Geral da ONU, António Guterres, é convidado para China, enviam-se mensagens reciprocas de reveillon e trocam-se postais. Guterres louva as iniciativas chinesas como o plano chinês Belt & Road (plano de desenvolvimento e endividamento do terceiro mundo) que aceita como consonante com os objectivos da Agenda 2030 da ONU. Por isso, nem uma palavra às atrocidades chinesas. Apenas a Israel.
A China é acusada de infiltrar e intoxicar vários paises do terceiro mundo com divida para obter apoio e votos na ONU. Por exemplo, em 2019, o ministro da agricultura chinês foi eleito para director da Organização da Alimentação e Agricultura da ONU- uma organização critica para a segurança alimentar mundial e a industria agrícola. Segundo o jornal francês 'L'opinon', a China chantageou a divida de paises africanos a Pequim em troca de votos na ONU. Congo, Camarões, Zâmbia e Madagáscar viram as suas dividas perdoadas no valor somado de 200 milhões de dólares – segundo a delegação francesa na ONU, a China exigiu aos delegados destes paises que fotografassem o seu voto secreto para servir de recibo de perdão de dividas, a França contestou mas perdeu. Resultado, 128 votos a favor, 9 contra e 35 abstenções.
A China tem emprestando 143 biliões de dólares a 53 paises africanos que significam 53 votos na ONU. Sem espanto, em Maio de 2020 (durante o silencio da pandemia chinesa) a China elegeu mais um membro para o painel dos Direitos Humanos, adquirindo poder de escolher os investigadores que vão elaborar relatórios acerca da liberdades de expressão, detenções, perseguições, desaparecimentos, que o regime comunista chinês esconde.
7. OMS
Pior é a Organização Mundial de Saúde (OMS), um antro de lobies medico-farmacêuticos internacionais, onde as doações por fundações, organizações não-governamentais (ONG's) e empresas privadas são superiores à soma das contribuições dos estados membros. Nos anos 90, as doações de farmacêuticas compunham 80% do orçamento da OMS, gerando uma aristocracia de funcionários na ONU que, em 2016, gastava 200 milhões de dólares/ano, só em facturas de viagens (quando grande parte dessas viagens são pagas pelos paises hospedes). Essa infiltração das farmacêuticas à OMS serviu para as suas campanhas de marketing e obtenção de influencia legal da OMS que lhes permitisse por exemplo, entrar em paises, como a Índia ou a África do Sul, para tratamentos de presumidas epidemias como o HIV/SIDA. Hoje a ONU tem 80 parcerias com a industria farmacêutica e ONG's, onde se incluem, sem pudor, as bilionárias Fundação Bill & Melinda Gates e a Fundação Rockefeller, ambas hastes do negocio das vacinas.
Os funcionários da OMS tornaram-se na aristocracia do planeta: têm total imunidade e estão isentos de vigilância, detenção ou obrigação de portar documentos oficiais, suas bagagens, propriedade e bens não podem ser confiscadas por nenhuma autoridade do planeta. É isto que significa a 'governação mundial', não-eleita, que Guterres tanto clama e à qual o presidente dos EUA, Donald Trump, retirou lucidamente os 450 milhões de dólares de doação anual.
8. O dono da OMS
Tedros Adhanom é considerado o primeiro diretor-geral da OMS sem qualificações médicas. Tedros tem trajectória política na Etiópia de onde é natural. Foi ministro da saúde entre 2002 e 2012, por ser o terceiro na hierarquia do grupo de guerrilha marxista "Tigray People's Liberation Front"(TPLF), uma organização inscrita Global Terror Database, dos EUA e que o levou ao poder. Chega à OMS por influência e democracia sinuosa: pela mão da fundação Gates que fez enormes investimentos na Etiópia (sob ampara de Tedros); pela China, a quem a Etiópia encomenda divida; e pelo lobie de paises do terceiro mundo, reféns da tutora China. Também algo apoiado pela campanha nos media e, residualmente, pelo "processo democrático" sui generis da ONU.
Como ministro da saúde na Etiópia, Tedros está acusado de negar ajuda a dissidentes políticos, esconder doenças e epidemias (identificadas pela OMS) afectando os paises vizinhos. O Human Right Watch denunciou, em 2010, que foram negadas ajudas de alimentação e fertilizantes à população de Amhara, conectados com a oposição política e cuja parte da população está desaparecida. Em 2012 foi nomeado ministro dos Negócios Estrangeiros quando perseguiu jornalistas e oposição política. Tedros está ainda associado à tragédia de Bishoftu, em 2016, que causou a morte pela policia de 500 pessoas e 70.000 detenções, gerando 'estado de emergência' na Etiópia e a fuga de dezenas de jornalistas para o exílio. Por isso, não espanta que quando Tedros chega à cadeira da direcção da OMS, nomeie Robert Mugabe (o ditador do Zimbabwe que ordenou a morte de 20.000 pessoas) como 'Embaixador da Boa-Vontade' da OMS.
9. Conclusão
Apesar de alguma efectividade histórica, nem a ONU nem a OMS merecem o protagonismo e autoridade que lhes é hoje atribuída no ruído da propaganda - paga pelos lobies que as financiam. Trapalhonas na 'crise do Covid', favorecem a sinuosa China e instrumentalizam povos e soberanias. A OMS, cujos funcionários da delegação em Portugal são acólitos do governo socialista, está a 'ordenar' a empresas da Internet que censurem quem vá contra as suas narrativas, pré-fabricadas pelos lobies que a financiam. A este nível, os erros pagam-se caro. É tempo de a ONU e a OMS se reformarem profundamente ou serem dissolvidas.
Pela paz e saúde da humanidade.
deveza.ramos@gmail.com
Sim, de facto não necessitamos de mais autoridades. Já basta a autoridade local de saúde. Quanto mais autoridades, autoridade nenhuma!
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