OPINIÃO: Ouro, o fim dos bancos centrais.

Por,
Augusto Deveza Ramos
Sociólogo


A 'crise' do Covid serviu para implodir o actual sistema financeiro. Estamos a assistir à historia em directo, a viver um período de transição económica profunda. A questão agora é: como será o próximo sistema financeiro e a quem vai ficar entregue, ás elites, como até aqui, ou ao povo?

1. Padrão-Ouro

O uso do ouro como moeda remonta a 610 a.C. na cidade Lídia, Grécia e circulou, por séculos, na Europa e Mediterrâneo. Embora a prata fosse o principal metal de circulação, o ouro era aceite como dinheiro devido a sua raridade, durabilidade e fácil identificação. O ouro tinha vantagens e desvantagens: moeda independente dos governos, não podia ser manipulada mas não era de fácil transporte.
No inicio do século XIX, a Inglaterra se afirma-se como potência industrial e comercial no mundo. O que lhe permitiu criar e impor ao mundo o 'sistema padrão-ouro'; neste sistema, cada banco era obrigado a converter notas bancárias em ouro (ou prata), quando fosse requerido. Canadá, EUA e Alemanha aderem ao sistema e Londres torna-se no centro financeiro do planeta. O padrão-ouro vigorará então como o primeiro sistema monetário internacional, entre 1870 e a 1ª Guerra Mundial, acontecimento que destrói imediatamente o sistema, seus paises participantes e periféricos..
Dadas as excessivas despesas dos paises com a 1ª Guerra, a maior parte dos paises saiu do padrão-ouro e começaram a emitir moeda sem referência (ao ouro), o que gerou enorme inflacção, caos financeiro e congelamento de salários (quando se criam os primeiro sindicatos).
O ouro era tão fulcral na estabilização dos sistemas financeiros e na confiança internacional que em 1891, quando o Banco de Portugal emitiu moeda sem referencia ao ouro, fez explodir a inflação; o mesmo aconteceu na França e Alemanha: no caso da França terá sido um dos gatilhos da 1º Guerra Mundial e no caso da Alemanha, para pagar reparações de guerra, o Banco da Alemanha emitiu moeda avulsa e criou a hiper-inflacção de 1920.

2. Como funciona?

É um sistema simples que se baseia em dois compromissos: primeiro, cada país compromete-se a fixar o valor da sua moeda em relação a uma quantidade fixa de ouro; segundo, como ouro é o compensador des/equilíbrios da balança de pagamentos, cada pais comprará ou venderá ouro, segundo as sua balança - venderá ouro, se as importações superam as exportações (menos ouro é menos moeda, os preços baixam e gera possibilidade de exportação de produtos a preços baixos);  comprará ouro, se as exportações superam as importações, gerando mais moeda, aumento de preços e trava novo superavit, reestabelecendo o equilíbrio com os paises do sistema. É um sistema de compromissos, moral e honra.
O sistema padrão-ouro inspirava que cada país mantivesse uma moeda consistente, balança comercial equilibrada e fomentava a paridade cambial. A Primeira Guerra implodiu o sistema padrão-ouro quando se geram crises em todos os paises: instabilidade política, caos, guerrilhas, assassinatos, falências, penúrias, ascenção de extremismos - esquerda e direita. Crises como a de 1929, nos EUA, são o resultado da especulação de investidores num sistema sem referencia ao ouro.
Foi apenas no fim da II Guerra Mundial, com os Acordos de Bretton Woods, em 1944, que o Ocidente obtém estabilidade, quando se forma uma nova ordem económica internacional: os EUA emergem como a nova potência mundial e o 'padrão libra-ouro' cede ao 'padrão dólar-ouro'. Com a imposição do dólar como referencia internacional, os EUA surgem como tutores das finanças mundiais. O Acordo de Bretton Woods estabeleceu ainda a criação do FMI - Fundo Monetário Internacional (cujos primeiros presidentes eram de origem soviética) - e o sistema monetário internacional, que convertia as diversas moedas nacionais em dólar americano, por sua vez, convertível em ouro - daí o "padrão dólar-ouro". Muitos países investiram então em dólares (convertíveis em ouro) e fixaram câmbio em relação ao dólar.
Mas em Agosto de 1971, a presidência de Nixon aboliu (unilateralmente) a conversão do dólar em ouro: os paises que tinham dólares não os poderiam converter em ouro. Em 1973, o FMI ratificou essa decisão e o ouro não seria mais um meio de pagamento, mas apenas uma mercadoria. Até hoje.

3. O Problema

O sistema padrão-ouro, é um sistema que obriga a rigor de contas para manter o equilíbrio internacional. O sistema fiduciário não. Como afirmou em 1966, Alan Greenspan no artigo 'Gold and Economic Freedom', "os apoiantes da moeda fiduciária, são estadistas do bem-estar social (socialismo e social-democracia) que usam políticas monetárias para financiar deficits de gastos". É tão verdade que desde que o FMI aboliu o ouro como forma de pagamento, em 1973, gera-se a anarquia nas finanças internacionais: aumenta a inflacção e a massiva divida internacional (até hoje); a desigualdade social dispara e surgem milionários à toa – porque os governos imprimem moeda à toa. A corrupção dispara, contas de todos os paises entram em colapso. Mas como é situação avulsa torna-se normal. Lentamente, esse discreto caos chega aos nossos dias: uma divida internacional de 640 triliões de euros, impagável, que faz Christine Lagarde (ex-FMI, hoje a treinar o BCE) afirmar, "precisamos de um reinicio da economia mundial" invocando a actual implosão do sistema. No inicio do séc. XX, as elites usaram guerras para destruir o sistema padrão-ouro, agora, no inicio do sec XXI, usam uma "epidemia" para destruir o sistema fiduciário. Coincidências? Tal coisa não existe em política, nem em economia.

4. Visões

Os opositores do sistema padrão-ouro alegam que a quantidade de ouro no mundo é insuficiente para sustentar um sistema desta qualidade – tal sistema, dizem, faria o preço do ouro disparar (está a acontecer). Mas é uma verdade distorcida: os paises não têm de ter todos a mesma quantidade de ouro, a emissão de moeda refere-se às quantidades de ouro disponíveis e a referências do próprio país. O ouro garante a estabilidade dos preços, controla a inflacção e reduz as incertezas do comercio nacional e internacional. É excelente para o mercado.
Mas não para políticos: porque o sistema padrão-ouro exige rigor e equilíbrio, contabilistas honestos. Impede o despesismo do estado, limita a especulação de vendedores de divida (bancos internacionais). Como deixa de haver dinheiro fácil, os governos executarão as suas políticas mediante o ouro disponível, isto é, depois do resultado da balança comercial numa economia livre. Não sob avulsos e fatais empréstimos a bancos internacionais, para justificar delírios ideológicos e competições partidárias. São esses empréstimos fiduciários que criam a galopada de impostos, inflacção e estagnação, a escravatura.

5. A 'encomenda'

O caos da 1ª Republica instaurada em 1910 em Portugal, deve-se muito mais à instabilidade financeira do que a aflições ideológicas. Desde que, em 1891, o Banco de Portugal emitiu moeda sem referencia ao ouro, a nação nunca mais recuperou. Caos, assassinatos, governos fátuos e humilhados, pobreza, economia descontrolada e dívida vintiplicada, foi o resultado da desobediência do Banco de Portugal à referência 'ouro', que o cenário de guerra na Europa agravou ainda mais.
Foi Salazar quem colocou ordem no pais, quando é convidado para reorganizar as finanças do estado em 1928. Em dois anos, Salazar controlou a despesa, usando uma lei do sistema padrão-ouro: 'não gastar mais do que se produz'. Não por acaso, Salazar, "o melhor ditador de sempre" segundo a revista Life de 1940, usou o ouro como reserva, garantia e referência do sistema financeiro português. Foi precisamente o ouro que escudou Portugal das tempestade da época: crises financeiras, guerra na Europa e na vizinha Espanha, eram ventos distantes a um pais que teimava em recuperar a sua dignidade pagando dividas (que aumentaram depois da II Guerra Mundial), fomentando a infraestrutura e enfrentando uma guerra domestica. Isto só foi possível porque Salazar usou o ouro como activo de credibilidade nacional e internacional.

Em 1974, Portugal era o 8º principal proprietário de ouro do mundo, com 864 toneladas de ouro. Mas o 25 de Abril estragou tudo. De propósito. O episódio do 25 de Abril não foi nem revolução nem golpe de estado. Mas uma encomenda. Tal como a UPA gerou a sabotagem de 1961 em Angola (amparada pela UNESCO) para objectivos geo-económicos, a 'encomenda' do 25 de Abril teve a mesma função: atacar a 8ª posição de Portugal do ouro, implodir Portugal e torna-lo dependente da "caridade" do FMI e quejandos. Conseguiram, com a cumplicidade de mercenários locais, a esquerda.
A 'encomenda do 25 de Abril' resume-se a isto: com assumpção da hegemonia do dólar dos EUA, cria-se uma nova ordem financeira mundial,, Salazar resiste e secundariza; os globalistas usam então a ONU e a NATO para forçar Portugal para o sistema fiduciário internacional, isto é, contratação de divida, Salazar resiste e secundariza. Costa Gomes participara na NATO e mantinha as suas ligações, quando lhe é encomendado que organize mercenários locais para derrubar o regime. A encomenda é efectuada no dia 25 de Abril de 1974, sob ampara da NATO - nesse dia em Lisboa, em alegada missão da STANAVFORLANT, quando o contra-torpedeiro canadiano Huron, da NATO, manteve, à distancia, um canhão em plausível posição de ameaça à Fragata Gago Coutinho que resistia à 'encomenda'. Costa Gomes recebe o seu prémio e torna-se no 2º presidente da 3ª Republica. Assim que executada a primeira fase da encomenda, aplicou-se a segunda fase, a implosão: saque de 200 toneladas do ouro português (entre 1974 e 76) e inscrição, gratuita, no clube de endividamento internacional. Em 1974, a dívida pública (estado gasta mais do que a receita) era de 13,5% do PIB, passados 44 alegres anos, em 2020, a dívida representa 117,7% do PIB. Isto é, o país nem produz o suficiente para pagar a despesa do estado e suas lapas. 
Esta é a maldição que Portugal mantém até hoje, entre outros 'benefícios jacobinos', como os inolvidáveis milhares de mortos nas províncias de África.

6. Ouro de Portugal

Em 25 de Abril 1974, Portugal herdava do Estado Novo 865,94 Toneladas de ouro. Hoje essas reservas são menos de metade: apenas 382,5 Toneladas. Se éramos o 8º proprietário de ouro hoje somos 14º. Em 44 anos, perdemos quase 500 toneladas de ouro, soberania, território e até população, mas ganhamos umas coisas, admitamos: divida massiva, 'prestigio' e até campeonatos.
Apesar de tudo, o ouro continua a ser amigo útil dos portugueses. As preciosas 382,5 toneladas de reservas ouro estão, segundo o relatório de 2019 do Banco de Portugal, a rentabilizar. Diz o documento: "a carteira de ativos de investimento próprios do Banco de Portugal" aumentou mais 6,9%  (36 010 milhões de euros), sucesso causado pelo aumento do preço do ouro", (...) "embora a quantidade de ouro detida pelo Banco não se tenha alterado (382,5 toneladas), o respetivo valor em euros aumentou 20,9%"; mais 2 mil milhões de euros de aumento face a 2018, fenómeno "explicado pela valorização do preço do ouro".
A maior parte destas 382,5 toneladas de ouro está em Portugal, confere o mesmo documento, mas parte significativa (quase metade) está, ou emprestado ao Banco de Inglaterra, ou rentabilizado em depósitos à ordem - Banco de Inglaterra, Banco de Pagamentos Internacionais e Reserva Federal dos EUA. O Relatorio do BdP sugere ainda que Portugal tem repatriado ouro.

7. A orgia da UE

Em Julho deste ano, lideres dos 27 estados-membros da União Europeia reuniram-se para aprovar uma 'ajuda financeira de 1,8 biliões de euros "para investir na União Europeia" e enfrentar a crise Covid. A medida, desenlaçada em vários tipos de 'apoio', revela a essência grosseira deste sistema fiduciário. Tecnicamente, a UE pode criar uma 'ajuda' de dois, três ou dez biliões de euros, porque emitir moeda sem controle é-lhes uma graça. Este sistema permite emitir e imprimir notas do vazio, do nada. Porquê? Não para ajuda dos europeus, concerteza, mas para a perpetuação do próprio sistema. Não por acaso, durante esta reunião, a Comissão Europeia (não-eleita) enfrentou a resistência de paises mais nacionalistas e sóbrios, como a Holanda, Áustria e Finlândia - porque a UE pretendia anular princípios de soberania básicos, em troca da 'ajuda' dos euros emitidos no vazio.
Entretanto, a propaganda fez-nos acreditar que este suspiro da UE é uma sumptuosa ajuda. Não é. Isto se soubermos que a Inglaterra poupou mais de 50 biliões de euros em contribuições, desde que saiu da UE. Bom negócio? Ajuda? Não será tanto assim. Até porque como disse Durão Barroso: "o fundo de recuperação da União Europeia é mais do que uma pipa de massa, é uma orgia financeira", de facto, porque é um sistema que cria orgias, discussão e divórcios (entre países europeus ricos e pobres), em essência, a implosão do sistema e da UE, que Lagarde ameaçou.

8. Conclusão

Actualmente há uma forte guerra tectónica entre bancos centrais e os nacionalistas. No primeiro grupo, está o FMI,  BCE, World Bank e bancos privados como a Goldman Sachs ou o Chase Bank; no segundo grupo, estão as versões nacionalistas europeias e mundiais, como o Brexit ou Trump nos EUA, estes pretendem a nacionalização total dos bancos nacionais – porque, por exemplo, o Banco de Portugal não é inteiramente português, decisões como «venda de ouro» têm de obter autorização final do Banco Central Europeu (BCE).
Para que os bancos nacionais sejam íntegros, têm de ter o seu capital próprio de garantia de moeda. O ouro garante isso. Permite ainda estabilidade financeira e inflacção de 0%, além da descentralização da economia; por isso, a versão nacionalista é favorável ao sistema padrão-ouro e a versão globalista favorável ao sistema fiduciário e divida. Tem existido projectos para restabelecer a circulação do ouro/prata, mas os lobies financeiros são titânicos no 'desvio' de políticos influentes.
Trump está decidido a nacionalizar a Reserva Federal, retomar o ouro como forma de pagamento e enfrentar os lobies financeiros E deu sinais disso: em nome do combate à decadência económica causada pelo esquema-Covid, Trump suspendeu os impostos aos americanos e promete que não os vai repôr. Os acólitos do sistema ficaram em pânico.
Este sistema fiduciário é ainda tão corrupto que faculta a distribuição arbitrária e sem rasto de dinheiro, o que permite, aqui sim, financiar não apenas terrorismo, criminalidade, guerras e guerrilhas, como financiar operações secretas de governos, empresas, organizações particulares e supra-nacionais. O problema fulcral deste sistema é ter criado a massiva irresolúvel divida de triliões de dólares. António Guterres (ONU), Príncipe Carlos, CEO's da MasterCard, BP, Microsoft, FMI, entre outros, anunciaram no Forum de Davos de 2018, que era necessário "um reinicio do sistema" em 2020. Não por acaso, a 'crise' do Covid chinês serve como uma luva essa anunciada implosão do sistema.
Estamos diante de uma transição financeira. Tudo indica que será reposto o sistema padrão-ouro, mas haverão resistências da elite fiduciária dominante (bancos centrais) que prefere a moeda electrónica digital e até o bitcoin (muito mais centralizadas e manipuláveis) – a China comunista  tem a sua moeda digital já em execução.
Portugal, se for sábio de olhar para a história, reconhecerá os seus momentos de ouro como exemplos luminosos para solidificar um futuro honesto.


deveza.ramos@gmail.com

Comentários