OPINIÃO: Bitcoin, a revolução

Por,
Augusto Deveza Ramos
Sociólogo



O Bitcoin está em recordes de valorização, actualmente em mais do dobro do sensacional pico de 2017. Numa economia altamente centralizada, emissão selvagem de moeda e num cenário restritivo que suspende a esperança à humanidade, o bitcoin é a moeda que os bancos centrais querem controlar, por uma razão: tem futuro.


1. Bancos centrais

O grande problema da economia mundial e, principalmente a ocidental, é o da oligarquia que comanda o destino da economia. Essa oligarquia, instalada nos bancos centrais, exercem avulsos favores a lobies, amigos, obedientes e monopólios, isto com o dinheiro que imprimem sem controle. É assim nos EUA, é assim na Europa.
Cada vez que há uma crise, os bancos centrais imprimem dinheiro, e esse dinheiro é distribuído a bancos para o colocarem na economia, mas os bancos retêm-no para não declararem insolvência. Como o dinheiro não chega à economia (senão residualmente, para não soar o alarme) gera-se mais crise, os bancos centrais voltam a imprimir moeda que distribuem aos bancos e estes voltam a reter: daí os salários milionários e mordomias na banca e a paralisia resignada em 70% da população. È um esquema que dura há decadas, sob patrocínio dos bancos centrais.

Na pratica, este esquema debilita a economia e torna-a deficitária, principalmente para os 70% da população, as pequenas e medias empresas e seus trabalhadores. A situação tende a persistir, porque os bancos centrais não fazem intenção de reverter a situação, como temos testemunhado. Quem quebrou este esquema banqueiro, foi Donald Trump, quando enviou subsídios do governo directamente a agricultores, mais tarde a empresas e famílias, para compensar as dificuldades durante os confinamentos - a tradição nos EUA (e na Europa) era, nas administrações Bush, Clinton e Obama, em tempos de crises enviar os subsídios não à população e ao mercado, mas à banca de Wall Street para o distribuir, mas a banca retêm a maior parte. Como Trump ousou fazer justiça popular, a banca organizou-se para lhe sabotar a reeleição.

2. Corrupção central.

Este esquema elitista é tão aceite entre o sistema financeiro, lobies e governos, que quase ninguém mexe uma palha, porque imperam lobies, salários e expectativas infinitas para legionárias mandíbulas.
Um exemplo chocante deste elitismo nas finanças, é o caso do recente negocio da  LVMH (Louis Vuiton, Möet, Henessy), uma empresa de artigos de luxo europeia, que comprou a Tiffany, empresa de joias e metais preciosos dos EUA, por 15,8 biliões, que foram emprestados pelo Banco Central Europeu BCE) a juros zero. Isso, juros zero. Este acesso ao credito directo, a juros zero, num banco central não é certamente facultado a qualquer europeu ou qualquer empresa europeia, apenas à rede da casta financeira que teima em nos governar. Estes privilégios à nata empresarial, são frequentes nos bancos centrais e acessíveis apenas aos namoros da elite financeira mundial.
É o caso do 'Forum de Davos', uma organização que reúne anualmente uma elite de participantes em Davos, Suíça, para, em nome do debate de temas da actualidade, garantir compromissos e privilégios financeiros internacionais. É uma espécie de Bilderberg, com a vantagem dos participantes receberem 'pontuação' nas finanças mundiais, incluindo credito a 'juros zero'.
Em essência, há uma elite financeira não-eleita senão pelo seu country-club de influências, que se pavoneia a decidir o destino do dinheiro publico, e o governa apenas em favor da sua auto-perpetuação. Mas há nuvens no céu: o Bitcoin estragou-lhes os planos e estão nervosos.

3. A disrupção  Bitcoin

Os bancos centrais avisam que o Bitcoin não é uma moeda, é um activo. Têm razão. O Bitcoin não é uma moeda fisica, é uma moeda digital; tal como em qualquer conta bancaria não há dinheiro físico na conta de um individuo ou empresa, apenas um numero, porque estão então nervosos os bancos centrais? Era suposto reconhecerem que o dinheiro físico quase não existe nos bancos, mas apenas um numero, um valor no computador – supõe-se que se todos os proprietários de contas bancarias levantassem o seu dinheiro num só dia, apenas 10% desses reaveriam os seus depósitos.
O nervosismo dos bancos centrais advém de outra coisa: do simples facto que o Bitcoin é uma moeda descentralizada e livre, sem regulação centralizada. E não é apenas livre como é libertária, isto é, expõe, por anteposição, como funciona o sistema fiduciário centralizado. E a oligarquia não aprecia essa transparência, não é de 'bom tom' que se saiba que 'a aristocracia' financeira europeia vive com o dinheiro da população, sem escrutínio de maior.
Este sistema Bitcoin expõe a impunidade da oligarquia financeira e o seu  falso véu de virtudes. Expõe o sistema de bancos centrais: é uma moeda descentralizada baseada numa vasta rede de utilizadores, não há centro, sede, administração ou proprietário. Essa é a sua principal solidez, para alem da solidez tecnológica que protege o sistema. São características inovadoras que foram apuradas com o crescimento da própria rede que se auto-matura a cada transacção.
E isto enerva os bancos centrais. Não por acaso, Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu (BCE), ex-presidente do FMI e condenada em França por crimes económicos, anunciou recentemente que o Bitcoin "é repreensível" e "deve ser regulado pelas autoridades financeiras". Nervosa, Lagarde advoga que o bitcoin "não é uma moeda" é um activo "fortemente usado para actividade criminal" e "lavagem de dinheiro". A presidente do BCE não fez mais do que o seu trabalho de propaganda ao ocultar as vantagens do Bitcoin,


3. Ascenção do bitcoin

As noticias recentes fazem concerteza Lagarde corar. O Bitcoin atingiu em 2021 valores record, mais que o dobro do valor de 2017 (17.000 dólares por moeda), sendo considerada na altura a operação mais especulativa da historia, o Bitcoin está hoje em quase 39.000 dólares por moeda.
O investimento de 1,5 biliões em bitcoins, por Elon Musk, CEO da Tesla, empresário da tecnologia espacial, inteligência artificial, Top Ten da Forbes Fortunes e um dos principais multibilionários do mundo, gerou um impulso na confiança ao bitcoin; Musk anunciou ainda que aceita bitcoins na compra dos seus automóveis Tesla. Também a empresa de tecnologia Apple, anunciou um investimento de 5 biliões em bitcoins. Outras empresas, como a Visa e a Mastercard dos cartões de credito, anunciaram  incluir o bitcoin nos seus serviços. Estas noticias fizeram aumentar a confiança no bitcoin, quer pelo publico de pequenos investidores, quer no mundo financeiro de Wall Street, onde milionários exibem crescente trajectória no investimento nas inovadoras moedas digitais. 
E isto não é por acaso, o bitcoin é um dos activos mais atractivos neste momento. Max Keiser, comentador financeiro na Rússia Today, Al Jazeera, Infowars, ex-corrector e proprietário da Swan Bitcoin, prevê que neste ano de 2021 o bitcoin alcance os 220.000 dólares a moeda, um crescimento de 570%, (comparados com os 38.000 actuais, já de si altos). E não é o mais optimista: o City Bank, por exemplo, prevê que o bitcoin atinja valores entre os 600 e os 700 mil dólares, por moeda (um crescimento de 2.500%, com lucros semelhantes).
Infelizmente, o Facebook de Mark Zuckerberg, tem um projecto de bitcoin de nome 'Libra', e o desgraçado Jack Dorsey, do Twitter, está empenhado na rede de distribuição de bitcoins - estes actores são perniciosos para a liberdade na internet, não só o Facebook e o Twitter são a Gestapo da Internet, pela censura, como são vistos como 'agentes deceptivos' infiltrados na rede bitcoin.


4. Como funciona ?

O bitcoin foi criado em 2008 por um programador japonês Satoshi Nakamoto, pseudónimo criado para não se tornar no Julien Assange das finanças.
Simplisticamente, os bitcoins são apenas algoritmos, ficheiros digitais (como uma pasta de documentos de computador), mas únicos e irrepetíveis (como uma obra de arte inimitável, daí o seu valor). Esses algoritmos, geram-se no próprio processo de transacção da moeda (uma compra, por exemplo), que ao ser efectuada, cria um algoritmo; esse algoritmo é um momento único na história da rede, logo, obtém valor. Mas para ser atribuído valor ao algoritmo, este terá de ser único, inimitável, o que precisa de verificação e confirmação de toda a rede. Para isso, são usados computadores de alta velocidade que percorrem toda a rede para verificar a sua originalidade num processo que se chama "mineração". Assim que seja verificada a sua originalidade fará parte da construcção da moeda bitcoin e fica armazenada numa pasta de nome "Blockchain" (livro de registos de cada transacção), e o minerador recebe uma percentagem da transacção.

5. Economia libertária

A mais destacada inovação das cryptomoedas consiste em não pertencerem a uma rede financeira central. Todas as tarefas são geridas de forma inteligente pela vasta rede que ninguém controla ou domina, não há centros de decisão, as decisões são de múltipla origem.
Ao contrario da moeda dos bancos centrais o bitcoin é limitado: Satoshi criou um limite de bitcoins, 21 milhões, ou seja, à partida há escassez de bitcoins. Sendo limitada, não há tendência para perder valor, é moeda deflaccionária (ao contrario do euro ou dólar, que a inflacção desvaloriza). Sendo o Bitcoin escasso, tem também tendência a aumentar o seu valor, pelo aumento da  procura, como no ouro, o que se está a verificar. É excelente para os tempos de inflacção, quando as moedas dominantes perdem valor, o bitcoin tende a valorizar, porque é escasso. E dado que o BCE imprimiu mais de 1 bilião de euros em 2020, ameaça-se inflacção (subida de preços) que o bitcoin ajudará a combater.
O bitcoin é anónimo: embora toda a gente possa ver qualquer transacção na rede, o utilizador não é obrigado a identificar-se na rede, este semi-anonimato permite que dissidentes ou excluídos do sistema, possam fazer transacções financeiras sem vigilância do governo, daí a sua popularidade em sistemas totalitários como China e Venezuela. Alem disso, o valor da moeda pertence totalmente ao utilizador e não a terceiros (bancos), tal como as transacções são feitas de forma directa, entre comprador e vendedor, sem vigilância de bancos, governos ou intermediários maliciosos.
A disponibilidade e rapidez é tambem uma vantagem desta moeda: comparada com as formas electrónicas tradicionais que demoram por vezes horas ou até dias, o bitcoin demora 10 minutos, no máximo, a confirmar uma transacção. A sua rede de utilizadores garante o seu funcionamento permanente (a única possibilidade de atacar a rede bitcoin é fechar todas as ligações ou a própria internet). Tem ainda um sistema de segurança, escudo de protecção, único no mundo electronico, teoricamente impossível de atacar que, ao acontecer, geraria uma vitoria pírrica (gastos superiores aos ganhos); além disso é resiliente, se um utilizador, organização ou pais for atacado a rede nunca cai, permanece noutras zonas. Tudo isto por uma pequena taxa, comparado com o PayPal ou taxas bancarias, o Bitcoin cobra taxas mínimas.
Embora volátil e de alto risco, provou ser um bom investimento para investir fundos ou poupanças.

5. Defensores e críticos: quem são?

Experientes e entusiastas da internet, os defensores do bitcoin são os que acreditam no mercado livre, no estado mínimo, que não tem o direito de taxar nem o trabalho nem a riqueza. Confiam na democracia digital e caracterizam a bitcoin como a "confiança distribuída". Sociologicamente, são compostos maioritariamente por jovens até aos 35 anos, empenhados em criar riqueza e oportunidades. Muitos desles são portugueses, que despertaram durante os confinamentos e tiveram mais tempo para pesquisas que compensem as duvidas do futuro dos empregos e, principalmente, as más nuvens da inflacção que aí vem - criada pelo BCE, ao emitir mais de 1 bilião de euros em 2020 .
Os críticos são os bancos centrais e a sua rede de dependentes. Porque não controlam uma moeda descentralizada, sem sede; logo, não controlam os seus utilizadores e a população, isto gera nervos aos vigilantes. Por isso clamam a bitcoin um instrumento para "operações criminosas" e "branqueamento de capitais", com o objectivo aflito de desmoralizar a concorrência. Os bancos centrais não reconhecem que o bitcoin possa servir piedosas causas como a simples compra de uns chinelos ou um tablet na Amazon, sem vigilância de bancos ou governos.
Há concerteza riscos. Um investimento que gera retornos quadriplicados em poucos meses, é considerado de alto risco. È também volátil, os preços oscilam facilmente e, se não houver segurança, o sistema pessoal pode ser furtado ou atacado por hackers; é um sistema mais complexo que o sistema corrente mas não é, de todo, difícil. É fiscalmente atraente, em Portugal não paga impostos, o que compensa riscos de aventureiros - financeiros mais experientes sugerem a iniciados que não arrisquem mais do que 10% de orçamento disponível, até obterem confiança.

Conclusão

É de de prever uma batalha, nos próximos anos, entre dois sistemas financeiros: a moeda dos  bancos centrais, oligarca, e o novo sistema, da moeda eletrónica, popular e descentralizada. Em essência, uma batalha entre centralismo e populismo. Haverão avanços e recuos, defensores e detractores, mas tudo indica que este combate seja irreversível e quotidiano, numa economia que está a mudar rapidamente o seu paradigma, a levante e a juzante. O  'Great Reset,' um plano dos bancos centrais para uma "nova" economia, não irá acontecer: tanto a China como a Rússia desconfiam desta "IV Revolução Industrial". E o vicio dos bancos centrais em emitir moeda à mais pequena brisa, tem sido prejudicial à equidade económica, Elon Musk, da Tesla, comentou que "a emissão massiva de moeda pelos bancos centrais" está a fazer "o dinheiro-fantasma bitcoin parecer sólido". De facto, a ruína dos bancos centrais deve-se apenas à incompetência endógena, não a ameaças exteriores.
Países como Israel, China, Japão, Suíça, Estónia e Ucrânia facultam e promovem o bitcoin, incluindo como moeda soberana. Outros, como a Coreia do Sul, França e Moçambique resolvem perseguir os seus utilizadores. Facto é que ninguém mais ignora o bitcoin. Nem os bancos. Pelo contrário, surgem cada vez mais correctoras e aplicações de smartphone, como a Revolut, que facilitam o acesso às criptomoedas.  Willy Woo, especialista em criptomoedas, estima que em 2025, 30% da população usará o bitcoin, o que irá "criar enorme pressão na moeda dos bancos centrais", saturados em divida, "o bitcoin será o carrasco dos bancos centrais".
A libertária moeda bitcoin é de facto, a revolução, a separação entre o estado e o dinheiro, a governação sem governantes. Uma revolução que impulsionará o naufrágio dos bancos centrais, mas não será a principal causa, essa, deve-se à incompetência dos próprios bancos centrais, viciados em criar divida e impostos à população.

deveza.ramos@gmail.com

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