OPINIÃO: Colapso da França.


Colapso da França.


Por,
Augusto Deveza Ramos
Sociólogo


A rápida e irreversível decadência de Macron resulta de uma crise grave na França que pode gerar a implosão da União Europeia e até uma crise mais alargada. Com divida inenarrável de 180% PIB, Macron está a criar fortes pressões à oligarquia da UE.


1. Cenário

A Europa está muito perto da falência. Tanto a França como a Alemanha enfrentam bancarrota provavelmente este anos de 2024. O caso da Alemanha é tão grave que se prevê um decréscimo em 8% no PIB, um valor no mínimo trágico para uma economia habituada durante decadas a crescer – embora artificialmente.  A situação de tão dramática que a industria alemã sofre uma crise de encomendas e forçou uma aliança entre a França e a Alemanha para reivindicar um esforço extraordinario da UE para ambos os países.


2. França em agonia

A França é um dos paises europeus que conseguiu manter a influencia nas ex-colónias em África. Usurpando matérias primas fundamentais à industria "civilizada"da Europa, a França conseguiu com um discurso sinuosos propagar-se como arauto dos direitos humanos no ocidente enquanto mantinha a população de África ao nível terceiro-mundista. Isto permitiu durante decadas manter a industria francesa a funcionar.
Entretanto, com a mundialização da economia e a forte competição principalmente da industria chinesa, mais competitiva sob salários muito mais baixos e mais horas de trabalho, a China conseguiu colocar e ate substituir produtos franceses em solo francês. Consequência, em 20 anos desapareceram metade das fabricas francesas. Embora a competição chinesa seja forte, ela só foi possível com o aval da UE e da França que não conseguiram impor tarifas (à semelhança de Trump nos EUA) que desmoralizasse a importação de bens chineses e protegesse a industria francesa e europeia.
No caso da França, é pior: o eleitoralismo da esquerda precisou de fomentar a sua principal bandeira, o emprego, que em governos socialistas só pode ser fornecido com emprego publico e consequente alta tributação para pagar salários de funcionários públicos, habituados a todas as mordomias e mais alguma. Esse vicio de estados assistencialistas teima em permanecer na Europa,  o caso da França é evidente mas tambem Portugal, Espanha e Grécia padecem do mesmo insaciável vicio de poder que, para se legitimar, precisa de fornecer emprego publico mesmo que isso signifique mais endividamento, mais impostos e mais inflacção (porque o vicio publico não gera  riqueza).

Entre 1995 e 2015, a industria francesa conheceu um revés inédito, (não por acaso, coincide com o período de adesão da França ao euro), que não terá favorecido a França, como agora Macron reconhece (na verdade o esquema do euro só beneficiou visivelmente a Alemanha e sua sócia Holanda). O pais da protecção ao trabalho, dois messes de ferias, baixo horário laboral, salários e pensões muito satisfatórios está agora diante de uma crise que parece irreversível. Os franceses estão cada vez mais nas ruas contra o governo, desde os coletes amarelos aos agricultores a contestação social é diária. E a situação não parece abrandar. Para a França manter o seu status quo só lhe restaria duas hipóteses, ou cobrar mais impostos que financiem a industria, ou mais divida publica que geram mais impostos para fazer funcionar a enorme carga estatal. Macron escolheu ambos e ambos geram descontentamento.


3. Bloqueado

Por isso, o presidente francês tem disparado em vários sentidos, não só ameaçou a coesão da Europa, criticando o euro (com razão), como ousou recusar o dólar como meio de transação com a China, por exemplo. A rebeldia aos seus amigos europeus e americanos teve efeitos. E até mesmo a dita guerra na Ucrânia com a Russia não está a surtir os efeitos desejados. Os europeus perceberam que a intervenção da Russia na Ucrânia é justa e nem os media conseguem recuperar a inoperante maldição a Putin. Esta guerra só serviria para apoiar Macron e desmoralizar a influencia da Russia na africa ex-francófona. Com uma França falida Macron presumiu que o fôlego belicista o fizesse menino priveligiado da UE que lhe salvaria as profundas crises em sacrifício dos paises realmente carentes como Portugal, Grécia ou Chipre. Esse foi o jogo de Macron, com uma divida de mais de 200 biliões, a maior da Europa, divida publica de 180%, Macron contava ser a cereja do bolo europeu fazendo com que os paises membros abdicassem dos mecanismos de apoio comum para resolver os problemas de Macron: a divida enorme e despesismo publico incontrolado.


4. Pior

Não só Macron perdeu as eleições europeias que o rejeitaram para metade do eleitorado de eleições anteriores, como perdeu a credibilidade dos europeus e dos EUA ao desvalorizar o euro e dólar como moedas de transacção internacional. Macron jogou e perdeu. O cenário é tão dramático para Macron que até a sua influencia está esgotada nos paises africanos onde a França ainda tinha alguma influencia, paises como Senegal, Nigéria, Burkina Fasso, Costa do Marfim, Chade, Camarões, Gabão e o actual território da Republica Centro Africana, antigas colónias francesas que a Russia tende a substituir em influência. Daí a raiva de Macron a qualquer movimento russo, incluindo aos acordos de Budapeste, que Macron afirmou não terem sido assinados para serem respeitados, o que despoletou a intervenção da Russia na Ucrânia.
Macron não tem amigos fora do aparelho. As ruas populares recusam-no, a direita maioritária em França faz dele traidor, a UE secundariza-o, os EUA desconfiam, a China aproveita-se e até as empresas de rating o desvalorizam, como a Standards & Poor que baixou o nível A da França para AA - descredibilizando a França e agitando os credores de divida francesa.


5. Condenados

Na verdade são os franceses que estão a pagar toda a factura da playstation de Emanuel Macron. Um presidente sem estrategia, globalista e sinuoso, sem qualquer aliança forte interna ou externamente, fama de traidor pelo que fez com a Russia e os acordos de Budapeste, Macron, é por vezes caricaturado como anti-cristo ou o novo Napoleão. Uma caricatura a não desprezar de todo, porque o rosto de Macron encolheu com as recentes eleições e dissolvendo o parlamento não apenas gerou mais inimigos internos como se tornou numa fera incontrolável. Macron não tem o apoio publico dos militares, que o desprezam. Por varias vezes Macron humilhou seus próprios militares com enormes paradas que o reverenciam ao mais impensável ego de Napoleão. Fez pior, Macron para humilhar os generais que o contestam em consecutivas cartas publicas decidiu enviar soldados franceses (que lhe eram dissidentes) para a Ucrânia, esses militares voltaram para França semanas depois em caixões fúnebres. É assim que Macron trata os seus inimigos, com decepção, hostilidade e crueldade. Não admira que sectores conservadores o apelem de ser 'O' anticristo. Esse mesmo anticristo que em período da dita "epidemia" clamou que não deixava cair as  mascaras sanitárias, "só para aborrecer a direita".


6. Caos

Os franceses não vem este tipo de hostilidade e decepção na liderança de Marine Le Pen e da direita, agora hegemónica, muito mais luminosa e inteligente e próxima do francês comum que o configurado Macron, um presidente arrogante que não se importa de usar migrantes hostis para  gerar caos na rua só para forçar medidas de emergência que legitimem o fraco de poder presidencial de Macron. Quando um emigrante de 16 anos rouba um carro na rua, a policia prende-o e o mata em defesa, isso gera caos, feridos, mortes e destruição de propriedade no valor de milhões, mas uma francesa que foi violada varias vezes por emigrantes e, pasme-se, empalada viva, não teve a visibilidade nem dos media nem intervenção governamental. Isto sem mencionar os constantes ataques a igrejas cristãs e à população rural. Recentemente, um grupo de jovens agricultores, no norte de França fez um festa de fim de semana que foi invadida por um grupo de emigrantes que os atacaram até gerarem morte; um desses emigrantes terá afirmado que "estamos aqui para matar os brancos". Esta é a França da esquerda arrogante de Macron que os franceses agora rejeitam. Uma França revoltada à esquerda e à direita, funcionários públicos e agricultores na rua ao nível de  guerra civil, sindicatos politizados, violência religiosa, uma industria decadente que apesar disso vende bijuteria de luxo por 100 vezes mais do preço de fabrico. A França da igualdade criou, com Macron, uma elite superbilionária e degradou a vida da maioria dos franceses. Isto é o resultado da França centralista onde os burocratas teimam em se esconder.


7. Pressões

Segundo Bob Lyddon da empresa Lydddon Consulting Services, a divida publica na França é de 180% do PIB - o governo clama ser de 110 %, mas (como em outros governos socialistas) não contabiliza a despesa dos diversos sectores públicos e entidades agregadas à UE cita o Jornal Express. Para Lyddon "a crise financeira da França pode ser o epicentro de uma crise que se alargará além da eurozona". Isto porque a França viu a classificação da Standard & Poor's (uma empresa de ratting) diminuído para o nível AA. Lyddon avisa que esta situação afecta directamente o euro porque vai forçar com que a França recorra mais à UE para cumprir os seus compromissos, logo enfraquecerá, por pressão, a capacidade financeira da UE que tende a sacrificar mecanismos de apoio a economias mais pobres como Portugal, Chipre ou a Grécia. Mas não fica por aqui, o esforço que a França poderá vir a reivindicar da UE pode enfraquecer o euro como enfraquecer a zona euro já de si em estagnação, o que segundo Bob Lyddon "poderá gerar algo mais que um colapso e não apenas na eurozona". Em essência, se assistirmos a um colapso económico em breve saberemos que a causa e origem disso terá sido o anti-cristo Macron.


8. Decadência

A  intencional sabotagem dos EUA (com conhecimento da Alemanha) das condutas de gás russo gerou a actual crise energética na indústria, empresas e população da Alemanha e França. Em sequência, alguns analistas observaram que a guerra entre Israel e Palestina serve só para Israel desbloquear a passagem de gás natural vindo do médio oriente para a Europa, em substituição do gás russo. Estamos por isso a assistir a uma engenharia geo-energetica para exclusivo interesse da Europa, mesmo que isso signifique a morte de inocentes.
Embora a dita crise energética não seja tão real como propagada - porque a Noruega se encarrega de fornecer energia, embora mais cara do que a da Russia -, o facto é os paises centrais da Europa estarem em real agonia, França e Alemanha em óbvia crise mas tambem a Espanha e os paises do Benelux.
As constantes teimosias em não abdicar da guerra na Ucrânia não serve os europeus, mas apenas os políticos europeus que não tem soluções para duas decadas de incompetência e intencional laxismo. Mesmo que a Russia seja o demónio que os media pintam não é mais demónio que as elites políticas europeias, essas que nunca falam em paz, ao contrario de Putin que lhes forneceu vários acordos de pacificação.

A hostilidade à Russia não é por causa de qualquer Ucrânia, mas porque as elites políticas europeias sabem de antemão que a UE não tem solução, e a distracção Moscovo poderá salvar algumas gargantas europeias. Pelo menos para já. Martin Armstrong, economista e conselheiro politico, avisa que esse não é cenario a desconsiderar assim que a população europeia descubra quem têm sido realmente os seus lideres políticos – não por acaso o PM belga demite-se nas eleições europeias. E na verdade as elites não o estão a conseguir, como provaram estas eleições europeias.


Conclusão

A mensagem de cosmética e comportamento de avestruz que (ainda) impera nos media e sociedade europeia serve apenas para proteger a incompetência política e a inutilidade de burocratas e funcionários de estado, essa infantaria das elites europeias onde se inclui Macron que arruinou a pobre França. Mas pior do que isso, serve para esconder a implosão gradual do BCE (e outros bancos centrais) - o euro deixou de ser a segunda moeda mundial em transacções internacionais, ultrapassado pelo Yuan chinês.
Tudo isto é o resultado de políticas globalistas, baseadas no excesso de burocracia, que destruíram intencionalmente a economia europeia. A piorar, o euro é uma moeda frágil, ao contrario de moedas como a libra, não tem mecanismos de protecção, isto é, enquanto a libra tem uma rede que protege a moeda de especulações, o euro não tem qualquer protecção e depende exclusivamente do mercado – que agora tende a desvaloriza-lo. Por esse desespero tanto na França como na Alemanha assistiu-se a um recorde de tributação que a população percebeu e respondeu com votos. Macron tem razão ao criticar o euro mas não tem soluções que salvem a França ou a Europa.
Talvez a Europa tenha que aprender com a coragem da Argentina: quando Xavier Milei o actual presidente da Argentina foi empossado a Argentina tinha uma inflacção de 300%, passados dois meses Xavier Milei viu a inflacção baixar de 300 para 13%, pelo simples processo de eliminação da despesa publica, despedindo mais de 70% de funcionários públicos, suspendendo todos os contratos com o governo (de onde vinha a principal corrupção) e eliminando qualquer legislação e ministério inútil, como ambiente, obras publicas ou transportes. Esta é a realidade que os governos ocidentais teimam em esconder, a enorme despesa publica gerada para efeitos eleitorais. A coragem de Milei gerou contestação no lobie da esquerda e até uma tentativa de golpe de estado, mas permitiu enorme alívio e contentamento à grande maioria da população, porque Milei percebeu que a causa de qualquer problema económico (divida, inflacção, impostos, desemprego, baixa produtividade) está no excesso de despesa publica, um sector pouco produtivo que só serve a engenharia eleitoral, feudalismo politico servil à esquerda e às habituais sanguessugas de orçamentos de estado.

Ao fim destas decadas não parece que a UE tenha conseguido algo de significativo senão gerar mais bilionários e estagnar a população, sem gerar qualquer democracia que comova Vladimir Putin. Pelo contrario, a influencia da UE ao nível mundial é cada vez mais insignificante, enquanto a Russia se ampara bem no BRICS (em ascenção). Na Europa, a descentralizada Noruega é muito mais influente que a UE em questões internacionais como energia e protecção de cidadãos, tanto que a UE recorre por vezes a este país não-membro para representar os europeus da "união". Com um capita e PIB superior ao da UE, democracia ancestral e tradicional, a Noruega é o paradigma de desenvolvimento até para os EUA de Trump. A Noruega, berço dos vikings, uma população já tecnologicamente avançada para a media do século IX, é hoje pioneira em quase tudo, desde democracia, direitos, tecnologia, energia, inovação, produção e cultura, por uma razão simples, porque a Noruega é ancestral em democracia e percebeu muito cedo que uma verdadeira soberania se fomenta em poder generalizado e infraestrutura energética independente.

É tempo das elites europeias abandonarem a arrogância centralista e o paternalismo ignaro,  aprender com as sociedades dianteiras e criativas da Escandinávia (em vez da estéril UE) seria a solução para paises como Portugal e Espanha. Mas talvez seja mesmo isso que assusta alguns europeus, porque a palavra 'SCANDINAVIA' significa 'península perigosa' e os actuais europeus, treinados para a domesticação, trocaram a liberdade pela segurança, é por isso que como dizia Georges Washington, não merecem nem uma coisa nem outra.

deveza.ramos@gmail.com



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2024
Pt
   

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