OPINIÃO: A primavera europeia

Por,
Augusto Deveza Ramos
Sociólogo


1. O Movimento

Numa Europa cinzenta, onde as ruas se tornaram demasiado copiadas, os coletes amarelos estão a ser pétalas de uma primavera anunciada. Os media teimam em negar a evidência; os cepticos afundam-se na Amazon, outros ou nem têm paciêcia ou nem sequer sabem quem são. Numa Europa mesquinha e autoritária, que negou a realidade aos seus habitantes, a revolta popular vestiu amarelo com coletes do código da estrada.

Em Paris, a primavera vai na sua VII sessão. Os media teimam em não lhes dar importância, senão quando falham ou não têm razão. Porque a agenda mediática não conta com espontaneidade popular - nem, avulsamente, com a sapiência dos eleitores, a quem chamam 'pategos'. Os coletes amarelos são um verdadeiro movimento popular, liderados por caminionistas e gente das classes trabalhadoras, aquelas que mais se esforçam para, no fim do dia, verem muito pouco. Isto só foi possível numa União Europeia (UE) disfuncional que condicionou os seus habitantes para a, politicamente correcta, agonia da espera. Os franceses não esperam mais.
O movimento ainda vive as contradicções da sua espontaneidade. Mas mostrou ser, de longe, mais saudável do que a violência policial que o enfrentou. Já houve mortos e feridos. Os media tentam ainda suavizar o movimento, outros anulá-lo. Mas continua a ser massivo. Cresce porque tem razão. E no último fim de semana foram mais 84.000 que estiveram em Paris para uma corrida aos bancos - onde levantariam o seu diheiro dos bancos, para sancionarem um estado dependente da banca. Mas os 80.000 policias, do socialismo de Macron, receberam os 'ousados' com canhões de água, impedindo-os de chegarem às suas proprias contas bancárias. Não faz mal. Com isto, a sociedade francesa e europeia, percebeu que está em curso a anunciada queda do globalismo - e, com isso, Macron e a UE.


2. Macron e os media

Macron 'libertou' biliões de euros para a sociedade francesa depois das primeiras manifestações dos 'Gillets Jaunes' - a inquietante pergunta que se sugere imediatamente é: para onde iriam esses biliões se não houvesse protestos? Para os 'refugiados' em França e na UE, provavelmente, não para os franceses.
Mas Macron foi muito mais 'sagaz' nas suas medidas: quer criar legislação que impeça manifestações espontâneas contra o governo - na inovação de Macron, só se poderá criticar o governo "com autorização do governo" (Fidel Castro ficaria invejoso!).
Macron tem hoje a sua popularidade reduzida a 23%. Enquanto a popularidade dos coletes amarelos está acima dos 70%, segundo sondagens recentes. Em ano de eleições europeias, não é de estranhar que Marine Le Pen lidere, de longe, as intenções de voto dos franceses. Está muito mau para os globalistas e não é apenas o frio que avassala toda a Europa.
Muito pior, está para os media que apoiaram as eleites globalistas e autisticamente se esqueceram de informar o povo. Ou, pelo menos, de lhes dizer a verdade. O povo não confia nos media, apenas atura os media. O povo não compra mais jornais, porque as suas batalhas quotidianas não têm reflexo nos media. Aturam, se quando, a televisão ao jantar. Os media tornaram-se canais das agendas das elites, e isso sabem os camionistas, a classe trabalhadora assalariada, que há muito se aperceberam que o espectaculo dos jogos de futebol era folclore para domesticar meninos. A classe trabalhadora quer, justamente, mais. Querem deixar de ser tontas abelhas anónimas, que carregam o polen para a abelha-elite-rainha. Hoje, os consumidores dos media estão muito mais exigentes e interactivos do que há 10 anos atrás.

O movimento dos coletes amarelos internacionalizou-se. Os media avulsos chamam-lhes populistas - se isso significa movimentos populares que ameaçam a incompetência estabelecida, têm a minha benção. Conhecem-se manifestações semelhantes no Canadá, Holanda, Bélgica, Portugal e Inglaterra. Neste último, o movimento está a ser oficialmente censurado pela polícia e pelos media (a policia inglesa tem contactado familiares de elementos do movimento e os media tem secundarizado, no mínimo, a voz dos seus lideres). O populismo é uma realidade na Europa e tem objectivos: combater o autoritarismo das elites e da emigração descontrolada.
O movimento dos coletes amarelos não compreende apenas a classe trabalhadora assalariada. Muitos deles, são proprietários de pequenas e micro-empresas do interior da França desertificada. Alguns deles forçados a migrar para as grandes cidades e competirem com os os mega-ricos, amigos de Macron. Este cenário está por toda a Europa, que se deixou embalar nas canções da sereia burocrática, não-eleita da União Europeia.
Neste momento é demasiado tarde para reverter o movimento, em crescimento. Nem os biliões de Macron conseguiram fazer isso. Os coletes amarelos estão para a Europa como esteve Trump durante a sua campanha: o que quer que acontecesse, seria impossível mudar o rumo da história, e esse rumo tem um título, "Fim do globalismo".

Em Portugal foi o fracasso que se conhece. Mas teve o mérito de chamar a atenção, criar alguma empatia entre os portugueses e ameaçar as instituições da inércia. Porque os portugueses, como todos os europeus, intuem que algo não está bem nas placas tectónicas da politica interna e do continente. E têm razão. Sabem que as politicas de importação de emigrantes não está bem. Sabem que a propaganda da prosperidade não é real. Sabem que existe uma divida "galopante" que um dia lhes vai bater á porta. Sabem que as soluções são escassas e o trabalho ímpio a única e precária solução, resignadamente mal pago.
Muitos destes trabalhadores, perderam até a esperança de melhores reformas. Porque sabem que mais políticas de austeridade significa cortes nas pensões. Outros, que não tiveram a carreira contribuitiva esperada, são os que mais desesperam. Entre eles, estão licenciados e profissões liberais, que foram secundarizadas apenas por não viverem nas grandes cidades, ou cometeram o erro de se educarem em cursos superiores.


3. O fim da globalização e da UE

A Europa não é um bloco de harmonia azul, num circulo perfeito de estrelinhas douradas. É um vulcão a dar os seus sinais. Entre a evidente dissidência à UE pelo Brexit, Itália, Hungria, Polónia, Roménia, Áustria, França e Alemanha, pasando pela criação dos blocos leste/oeste europeus, a UE não é a paz que os burocratas quiseram impor. Porque foi, precisamente, essa imposição, mais perniciosa do que produtiva, que criou cisôes - dentro e fora das soberanias (como as perigosas politicas do genocidio da Europa pela emigração).
Sabe-se que a UE cairá por volta de 2020. Isto por decisão da propria UE, que tem mantido uma (intencional) politica de insano endividamento, centralização fiscal, politicas selvagens de importação de selvagens, entre outras aberrantes ingerências burocraticas nas nações que a compõe. Nisto há um objectivo: o colapso da Europa. Os globalistas pretendem libertarem-se de uma população europeia demasiado educada e conhecedora dos seus direitos, debilitarem a classe media reivindicativa, e enaltecerem o seu galo de estimação, a China - onde os trabalhadores recebem cordões como salários, em fábricas e localidades que fazem lembrar a imunda industrialização europeia do sec. XIX.
Há ainda ainda neste cenário, o perigo do movimento dos coletes amarelos ser instrumentalizado para a responsabilizalção do colapso da UE, o bode expiatório ideal, a desculpa perfeita: populismo.


4. Conclusão

Portugal é hoje uma beta-experiência, aberrante, de desertificação de um país, em prol do oportunismo do litoral onde se fabricam os mais dóceis eleitores e as melhores parabólicas do estado colector - que não deixa de se endividar. Portugal é uma estagnação anunciada. É, para os partidos do oportunismo, um jardim-infantil à beira-mar plantado. Mas é, principalmente, composto por portugueses saudavelmente expectantes de uma vida que teimam em melhorar. Não confiam mais nas soluções da inércia que veste Dolce & Gabanna. Só confiam em si próprios, nas suas familias, amigos, vizinhos. E descobriram que, afinal, como lhes diziam os media, não estavam isolados. São hoje, milhares de europeus que, tal como os 'pategos' do interior norte-americano que votaram Trump, só querem ser ouvidos.

Um colete amarelo custa 2,5 Eur.

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